O Brasil se evidencia como um país liberal no campo do respeito à liberdade de ser, desde questões por cor da pele, passando pela orientação sexual, até a escolha da religião, como se tudo fosse aceito, normal. Vê-se no entanto que tudo isso é discurso, pois a realidade demonstra que somos um país de preconceituosos e dissimulados, posamos de politicamente corretos, mas, no dia a dia, a prática toma outro rumo.
Impera a hipocrisia. No começo do presente século, o Dr. Doudou Diène, relator especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU, em pesquisa no Brasil, incluindo Salvador, afirmou que o Brasil estava cada dia mais preconceituoso, como se o possível clima de liberdade e desrespeito às leis estivesse estimulando as pessoas a se revelarem.
Duvidei, porém recentemente, mais atento, vi a realidade desse crescimento: um juiz segundo a sua definição afirmou que o candomblé e a umbanda não são religiões. Voltou atrás. Faz pouco uma senhora veio a mim e registrou o seu protesto, afirmando que eu brincava muito, que precisava levar mais a sério as coisas da espiritualidade. Sorri e ouvi as suas ponderações ilustradas com exemplos, e ao término me perguntou, como se convencida de que teria resgatado uma alma do purgatório: “E então?” Ao que disse: “Senhora, permita-me discordar, mas o alegre nunca foi ausência de seriedade, muito riso não significa pouco siso, e sabe de uma coisa, permita-me a imodéstia, mas eu procuro fazer algo pelas pessoas e a sociedade, e a senhora, séria, austera, faz o quê? Não me respondeu.
As pessoas pedem pelo dissimulado, pela palavra fácil, sem análise do seu entorno e em tudo isso vemos ideias pré-definidas de que um religioso não pode ser alegre, que os negros são possíveis bandidos e “justificam” atitudes racistas, que os homossexuais são promíscuos, que o candomblé faz o mal... As pessoas prosseguem sem revisar seu conteúdo de preconceito e não se dão conta que estamos no século XXI.