Somos, na realidade, produtos da nossa história emocio-psicológica e espiritual de sempre.
Não é preciso grande erudição, por exemplo, para nos darmos conta da existência de manipuladores da fé humana - os sofistas - que vivem assentados em pretensos e arrogantes conhecimentos religiosos para ditarem o que é certo ou errado, muitas vezes, diante de uma massa ignara, que só os busca para consolação e apoio espiritual.
A sede de saber do ser humano, de um modo geral, ainda não o lança às suas buscas próprias e sim àqueles indivíduos que, em marketing pessoal, ditado pela vaidade, se auto-intitulam condutores legítimos deste ou daquele saber.
Muitos desses “cultos” da religião, por exemplo, me remontam à escola filosófica grega do século IV a.C, que, com facilidade de deitar o seu saber, com citações e demonstrações muitas vezes enganosas do conhecimento específico que dizem ter, tornam-se em sequiosos de conquista de fama, mesmo que seja à base de engodos e dissimulações. São mestres da retórica, ensinando aos homens ávidos de liberação e poder a maneira de consegui-lo. São os semeadores de ilusão, ainda que os seus discursos estejam estribados em uma grande e aparente lógica.
Muito diferentemente dos filósofos gregos em geral, o ensinamento dos sofistas era sempre calcado no interesse, na vantagem pessoal que poderiam auferir daqueles incautos que os buscavam.
A Doutora em filosofia, Rosana Madjarof, chega mesmo a afirmar que “os sofistas de ontem e de hoje se bancam de uma grande cultura, mas o conteúdo desse ensino que aparentava possuir todo o saber, a cultura, uma enciclopédia, era um meio para um fim prático de arrancar aplausos para a sua vaidade, portanto, superficial”.
Assim, vamos ver, prossegue a insigne estudiosa “a realização da humanidade perfeita, segundo o ideal dos sofistas de ontem e de hoje, não está na ação ética e ascética, no domínio de si mesmo, na justiça para com os outros, mas no engrandecimento ilimitado da própria personalidade, no prazer e no domínio violento dos homens, inclusive da sua própria consciência”.
Assim, nunca é demais estarmos atentos para com os que se julgam sempre sabedores de tudo, onde a sua “missão” é a proteção destes ou daqueles valores, de saber ou de moral, pois aí, sem dúvida alguma, estará um tirano do comportamento alheio, do livre pensar humano. É nesse sentido e com esse sentimento que vemos as lutas fratricidas surgirem, as oposições virulentas a ideias e pessoas desaguarem no poço sem fim dos caprichos e vaidades, onde prevalecerá o vale tudo para a manutenção da “verdade” desses doentes da alma.
Nós os encontraremos em todos os segmentos da sociedade humana, todavia, serão muito mais bem vistos no campo das religiões, pois aí se tornam, pelo menos tentam, em arautos do verdadeiro saber desta ou daquela religião, em “paladinos” das “distorções”, das “deturpações” que passam a ver em tudo aquilo que não sai do seu entendimento.
Graças a Kardec, com a sua doutrina de liberdade, esses indivíduos buscam sedimentar nosso terreno, mas, geralmente, ficam adstritos ao seu raio de ação, onde manipulam com o seu verbo os que não estudam e não oferecem, por ignorância, oposição ao que não é sensato, nem cristão. Esperneiam e se debatem em sua arrogância e vaidade, expondo-se, muitas vezes, ao ridículo de sua sanha.
Caso você queira saber se o seu líder religioso é, de fato, um homem de bem ou um oportunista, consulte Kardec que afirma “que o verdadeiro homem de bem é o que pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Interrogando sua consciência, perguntará se praticou algum ato que transgrediu essa lei. Se não fez o mal, se fez todo o bem que podia e se ninguém tem motivos para dele se queixar. Enfim, se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem”.
José Medrado - Mestre em Família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.