Nestes dias atuais, que vemos a todo instante discussões em todas as mídias e redes sociais acerca do papel da religião, posicionamentos de representantes religiosos de todos os matizes morais e interesses, entendo cabível avaliarmos e refletirmos sobre o papel da fé na vivência pessoal e, também, no sentido mais amplo de sociedade.
Fé é uma palavra de origem latina que significa fidelidade traduzida como uma opinião firme de algo que se tem como verdade, sem que haja a necessidade de qualquer prova objetiva, pois se tem a confiança no que se lê ou ouve, sem contestar, colocando o que não se explica como mistérios da fé. Há, no entanto, religiões que se propõem ao convívio com a razão, o que nem sempre é vivenciado pelos seus adeptos. Os problemas em torno da fé surgem quando se ouve qualquer coisa de quem se tem "confiança" e, a partir daí, as suas proposituras, os seus conceitos e/ou as suas justificativas sobre as mais variadas situações de vida, por mais esdrúxulas que sejam, se tornam verdades inalienáveis, passíveis de defesa férrea, sem o crivo do bom-senso ou mesmo de análise.
Ora, a fé deve ser a zona psicológica de conforto de quem busca compreender, confortar-se, encontrar força, suporte, alívio. Dessa forma, infere-se que fé é produto pessoal que não pode ser imposto, determinado, mas abraçada por convencimento, conquista. Não posso, dessa forma, querer que todo um país se ajoelhe aos impositivos, parâmetros, conceitos da fé. Não tenho o direito de achar que a minha fé, que em determinado momento serviu à minha visão de vida, se torne em instrumento para todos, dentro do mesmo propósito que a busquei. Pior: não me cabe impor como verdade situações que não dizem nada a um cem números de pessoas.
A fé, assim, tem se tornado um instrumento de trânsito da arrogância humana, em uma total falta de conexão entre o sentido da fé-vivência com uma realidade proselitista, xiita, desagregadora, em franco contraponto às propostas que a fé traz em seu sentido de apascentamento, apaziguamento.
Entendo, desse modo, que o meu conteúdo de fé cabe a mim, e aos que me buscam querendo checar esse meu sentido de vida religiosa e/ou compartilhar os seus entendimentos com os meus, dando, assim, origem às comunidades. Não consigo entender, por outro lado, uma fé que queira agir na forma de vida de pessoas que sequer têm vontade de se conduzir por esta ou aquela religião. A vida em sociedade deve ser conduzida por leis, normas, estruturas de polis que gerem urbanidade, entendimento, jamais tensão permanente de conflito. Religião, conceitos de religião não devem conduzir a sociedade nos seus direitos e deveres, mas, sim, as suas leis e estruturas normatizadas de convivência humana.