Sou verdadeiramente admirador do escritor Antonio Risério, sua visão arguta de acontecimentos e fatos históricos não guarda qualquer paralelo como senso comum. Sou levado, no entanto, por natureza não omissa, a discordar do seu artigo do último sábado, onde, com o título "Em defesa dos vândalos", ele se propõe a uma comparação de valores de ação entre o que os vândalos fazem e o que o pessoal de colarinho branco faz.
Não incita desordem, mas faz escala de valores. Em determinado momento até afirma que "queimar um ônibus não é nada, em comparação com as matas incendiadas pelo agronegócio." Não penso, por outro lado, que se pode compensar crimes, em classificação comparativa, tendo por cobertura resultado de prejuízos. A linha de raciocínio do ilustre pensador caminha por terreno perigoso, posto que vivemos em sociedade e, em verdade, as pessoas já se permitem, dentro deste entendimento, que, se alguém faz, elas também podem fazer.
Uns e outros são crimes, que necessitam de ação balizadora, como instrumento de dissuasão, a fim de que não regridamos a épocas em que as leis eram feitas pela vontade dos mais fortes, dos com mais poder de opressão e medo. Entendo que devamos trabalhar pela prevalência do legal, sempre contra a impunidade, mesmo sabendo que o legal pode não ser, muitas vezes, o justo. Fico imaginando que aqueles "justiceiros" do Rio de Janeiro que argolaram um jovem ao poste justificaram o feito pelo crime que ele cometeu, crendo que o deles foi de menor monta. É temerário flexibilizar, tolerar ações criminosas de qualquer natureza, porquanto gera repetição. Deteriora a vida em sociedade.
De outra parte, entendo que as teorias acadêmicas fortalecem mentes pensantes, mas o individualismo subjetivo do que se tem como certo não pode suprir a realidade de uma sociedade em convulsão, visto que o caldeirão não suporta a pressão de utopias que se deformam na aplicação prática. O caminho não pode ser taliânico, mas educativo.